Teste respiratório do hidrogênio expirado
O teste respiratório do hidrogênio expirado é um exame que utiliza a medida do hidrogênio na respiração para diagnosticar várias condições que originam sintomas gastrointestinais.
Em humanos, somente as bactérias – especificamente, as bactérias anaeróbias no cólon – são capazes de produzir hidrogênio. Essas bactérias produzem hidrogênio quando estão expostas a alimentos não absorvidos, especialmente açúcares e carboidratos, não de proteínas ou gorduras.
Normalmente uma pequena quantidade de hidrogênio pode ser produzida a partir da pequena quantidade de alimentos não absorvidos que atinge o cólon. Entretanto, maiores quantidades podem ser produzidas se houver um problema na digestão ou absorção alimentar no intestino delgado, permitindo que uma maior quantidade de alimento não absorvido atinja o cólon.
Grande quantidade de hidrogênio também pode ser produzida quando as bactérias do cólon se movimentam para o intestino delgado, uma condição chamada de supercrescimento bacteriano do intestino delgado (SCBID). Nesta última situação, as bactérias estão expostas ao alimento não absorvido que não teve ainda a chance de atravessar completamente o intestino delgado e ter, então, uma digestão e absorção completa.
Uma certa quantidade do hidrogênio produzido pelas bactérias no intestino delgado ou no cólon é absorvida para a corrente sanguínea através das suas paredes. O hidrogênio contido no sangue é transportado para os pulmões onde é liberado e exalado na respiração podendo, então, ser medido.
Dúvidas Frequentes
O teste respiratório do hidrogênio expirado é utilizado no diagnóstico de três condições. A primeira é quando os açúcares da dieta não têm digestão normal.
O mais frequente deles é a lactose, o açúcar do leite. As pessoas que são incapazes de fazer a digestão apropriada da lactose são denominadas de intolerantes à lactose.
O teste também pode ser usado para diagnosticar problemas com a digestão de outros açúcares como a sucrose, frutose e sorbitol.
A segunda é para diagnosticar supercrescimento bacteriano do intestino delgado, uma situação em que um número maior que o normal de colônias bacterianas está presente no intestino delgado.
A terceira é para diagnosticar a passagem rápida do alimento através do intestino delgado.
Todas essas três situações podem causar dor abdominal, estufamento e distensão abdominal, flatulência (passagem de gás em grandes quantidades) e diarreia.
As bactérias anaeróbicas do cólon são capazes de digerir os açúcares, carboidratos, como alimentos.
Quando isso ocorre, elas convertem um pouco do açúcar em gases, mais comumente hidrogênio.
Elas também produzem e liberam para o cólon outras substâncias como, por exemplo, químicos que fazem o cólon secretar água e ocasionam diarreia.
Como visto anteriormente, um pouco do hidrogênio é absorvido pelo cólon para a corrente sanguínea e é eliminado na respiração, onde pode ser medido.
Se uma pequena quantidade de açúcar ou carboidrato atingir o cólon, pouca quantidade de gás e outras substâncias são produzidas, não causando problemas.
Quando uma maior quantidade de açúcar ou carboidrato atinge o cólon, porque não sofreram digestão e absorção no intestino delgado, uma quantidade maior de gás e outras substâncias é formada no cólon.
Por exemplo, se um indivíduo digere e absorve normalmente o açúcar do leite (lactose), nenhuma lactose que foi administrada para o teste respiratório do hidrogênio expirado atinge o cólon e, então, não é observado nenhum aumento na concentração do hidrogênio na respiração durante a realização do teste.
Por outro lado, se um indivíduo não digere e absorve completamente a lactose, ou seja, ele ou ela é intolerante à lactose, ela passa pelo intestino delgado e atinge o cólon onde as bactérias a digerem e produzem hidrogênio.
Nessa situação ocorre um aumento na concentração do hidrogênio na respiração.
Outros açúcares no qual a digestão insuficiente pode ser diagnosticada pelo teste respiratório são a frutose (encontrada no xarope de milho) e sorbitol (adoçante de baixa caloria).
Existem outras situações que a digestão anormal dos açúcares da dieta pelas bactérias pode causar problemas.
Diferentemente do cólon, o número de bactérias anaeróbicas produtoras de hidrogênio no intestino delgado é pequeno.
Se, entretanto, um grande número de bactérias produtoras de hidrogênio se movem para o intestino delgado a partir do cólon, uma condição denominada de supercrescimento bacteriano do intestino delgado, elas podem digerir os açúcares e carboidratos antes que o intestino delgado tenha a chance de fazer a sua digestão e absorve-la, produzindo, então, grandes quantidades de hidrogênio.
Finalmente, se os indivíduos têm uma passagem anormalmente rápida da comida através do intestino delgado, pode não haver tempo suficiente para a digestão e absorção dos açúcares e carboidratos no intestino delgado.
A consequência é a entrada de grandes quantidades de açúcar e carboidrato no cólon onde a bactéria pode digerir e converte-los em gás.
Para diagnosticar supercrescimento bacteriano e trânsito rápido através do intestino delgado, geralmente é utilizado para o teste um açúcar que não é digerido e absorvido pelo homem, como a lactulose.
No caso de passagem rápida pelo intestino, o açúcar passa rapidamente pelo intestino delgado e para o cólon de maneira que o hidrogênio é encontrado na respiração muito cedo após a sua ingestão.
No caso de supercrescimento bacteriano, a produção de hidrogênio ocorre duas vezes durante o teste.
Uma vez pela bactéria no intestino delgado e a segunda quando o açúcar entrar no cólon.
Antes do teste respiratório, o paciente faz jejum de 12 horas. No início do teste assopra vagarosamente num aparelho portátil.
O aparelho mede a concentração inicial (basal) de hidrogênio.
Depois ingere uma pequena quantidade do açúcar a ser testado (lactose, frutose, lactose, glicose, etc., dependendo do objetivo do exame).
Amostras adicionais do ar expirado no aparelho são analisados e medido o hidrogênio a cada 15 e 30 minutos por três e até cinco horas.
A interpretação dos resultados do teste respiratório do hidrogênio expirado depende do açúcar que é utilizado e o padrão de produção de hidrogênio após a sua ingestão.
Após a ingestão das doses de teste dos açúcares da dieta (lactose, frutose ou sorbitol), qualquer produção de hidrogênio significa que há um problema com a digestão ou absorção do açúcar testado e que alguma quantidade dele atingiu o cólon.
Quando o trânsito intestinal rápido está presente, a dose de teste da lactulose, que não é digerível, atinge o cólon mais rapidamente que o normal e, então, a bactéria colônica produz hidrogênio mais precocemente após a ingestão do açúcar.
Quando está presente o supercrescimento bacteriano do intestino delgado, a ingestão de lactulose resulta em dois períodos separados de produção de hidrogênio durante o teste, um período mais precoce causado pela bactéria no intestino delgado e um mais tardio causado pela bactéria no cólon.
Existem várias limitações para o teste respiratório do hidrogênio expirado.
Por razões desconhecidas, realizando o teste para supercrescimento bacteriano do intestino delgado com lactulose pode ser diagnosticado somente 60% dos casos (esta diminuição da sensibilidade do teste pode ser devida em parte aos critérios estritos que são utilizados para interpretar o teste como anormal; com menor restrição dos critérios o supercrescimento pode ser diagnosticado mais frequentemente).
Ainda, com o supercrescimento bacteriano pode haver uma sobreposição dos períodos precoces e tardios da produção de hidrogênio que pode ser interpretado erroneamente como um único período característico de trânsito intestinal rápido.
Finalmente, alguns indivíduos normais podem ter um trânsito lento através do intestino delgado tornando o teste prolongado – até 5 horas – sendo que algumas pessoas não se predispõem a continua-lo.
Outros não têm bactérias produtoras de hidrogênio o que torna impossível realizar o teste respiratório do hidrogênio expirado. A maioria destes tem uma bactéria que produz um gás diferente, metano (existem outros que produzem os dois: hidrogênio e metano).
O metano pode ser medido na respiração tal como o hidrogênio, e essa produção pode ser utilizada da mesma maneira como o hidrogênio.
Existe muito menor experiência com metano, entretanto, sendo a sua produção mais complexa que a de hidrogênio.
Então, não está claro se o padrão de produção de metano após a ingestão de açúcares pode ser interpretado da mesma maneira que a produção de hidrogênio, especialmente no diagnóstico de supercrescimento bacteriano.
O padrão de produção de hidrogênio que é típico para supercrescimento bacteriano não significa necessariamente que os sintomas do indivíduo são causados pelo supercrescimento.
Por exemplo, podem haver muitas anormalidades anatômicas do intestino delgado como estenoses (estreitamentos) ou anormalidades funcionais na maneira da musculatura do intestino delgado trabalhar.
Estas anormalidades podem causar sintomas de estufamento, distensão, dor e diarreia por si só, mas eles também podem conduzir ao supercrescimento bacteriano. Então, pode haver uma anormalidade de base que é a responsável pelos sintomas e não o supercrescimento bacteriano.
A única maneira de diferenciar entre as duas causas que podem originar o problema é tratar e erradicar a bactéria. Se os sintomas desaparecerem é mais provável que o supercrescimento é o responsável pelos sintomas ao invés da anormalidade de base.
Qualquer condição que tem como consequência a entrega ao cólon de alimento não digerido ou mal absorvido pode resultar em testes respiratórios anormais quando os açucares da dieta são utilizados como substrato.
A insuficiência pancreática e doença celíaca podem produzir testes respiratórios anormais.
No primeiro porque estão faltando as enzimas pancreáticas para a digestão dos açúcares e no segundo porque a camada superficial do intestino delgado está destruída e a comida digerida não pode ser absorvida.
Em ocasiões pode ser necessário excluir essas causas de teste respiratório anormal com a realização de exames adicionais para a função pancreática e biópsia de intestino delgado.
Os antibióticos são utilizados para tratar super crescimento bacteriano do intestino delgado; entretanto, qualquer antibiótico pode ser eficiente para eliminar o super crescimento da bactéria somente em 50-60% das vezes.
Então, se os sintomas não desaparecem num indivíduo após o tratamento com antibióticos, pode ser útil repetir o teste respiratório para determinar se os antibióticos eliminaram a bactéria. Se não, um tratamento sem antibiótico ou com um antibiótico diferente pode ser tentado.
Os efeitos colaterais do teste respiratório do hidrogênio expirado são exatamente os mesmos que se poderia esperar em indivíduos que digerem e absorvem pouco os açúcares e carboidratos, por exemplo, estufamento, distensão, dor e diarreia.
Quando é utilizada a lactulose estes sintomas são improváveis de ocorrer ou são fracos porque a dose de lactulose utilizada no teste é pequena.
Para diagnosticar a intolerância à lactose, um procedimento alternativo ao teste respiratório necessita retirar amostras de sangue antes e após a ingestão de lactose.
Se a digestão e absorção de lactose é normal, os níveis de glicose no sangue devem aumentar.
A elevação da glicose no sangue ocorre porque a lactose é quebrada para os seus dois componentes que são absorvidos para o sangue, galactose e glicose.
Uma segunda alternativa é dar uma dose de lactose (ou outro açúcar da dieta) e observar os sintomas da pessoa. Se ela for intolerante pode ocorrer estufamento, distensão, dor, flatulência e diarreia.
Uma terceira alternativa é fazer uma tentativa dietética na qual o açúcar que potencialmente acarreta os problemas é estritamente eliminado.
Todas estas alternativas, entretanto, têm limitações e problemas.
O super crescimento bacteriano pode ser diagnosticado pela cultura da bactéria a partir de uma amostra de líquido do intestino delgado e contando o número de colônias da bactéria que está presente.
Este procedimento requer a passagem de uma sonda através do nariz, garganta, esôfago e estômago sob controle radiológico (ou endoscópico) de maneira tal que o líquido possa ser obtido no intestino delgado.
É um procedimento desconfortável e caro e a maioria dos laboratórios não estão capacitados para fazer culturas precisas das amostras. Então, este teste não é realizado rotineiramente.